O idoso e a Pandemia

15/04/2020

 

Como fazer para ajudá-los?

Idosos mentalmente saudáveis poderão ter incrementado o convívio familiar via redes sociais, teleconferências com os familiares e amigos. Além disso, devem procurar acompanhamento on line para a realização de atividades físicas em casa e criar uma rotina diária de atividades e lazeres. Os lazeres podem envolver também o uso de tecnologias e esse pode ser um tema para aproximar netos e avós, pois crianças e adolescentes podem ensinar seus avós nas teleconferências familiares como utilizar a web, baixar jogos e assistir entretenimento via youtube e outras plataformas. É importante ressaltar que essas medidas poderão aliviar o extensivo período de isolamento que poderá durar mais de 6 meses. Mesmo que o idoso seja saudável, é importante atentar para a execução das atividades de vida diária (AVD´s), como cozinhar, cuidar da casa, fazer pagamento on line, visto que alguns podem apresentar dificuldades sutis que deverão ser melhor investigadas. Alterações nas AVD’s podem indicar alterações de memória sutis. No envelhecimento é natural a lentificação na capacidade de memória, porém ela não interfere significativamente nas atividades de vida diária do idoso. No caso do idoso apresentar alterações em atividades diárias costumeiras, é importante procurar um profissional com conhecimentos em neuropsicologia para que seja realizada uma avaliação neuropsicológica.

Já no caso de idosos que apresentam problemas mentais, dentre eles declínio cognitivo ou demência, os cuidados devem ser redobrados durante a quarentena, demandando maior esforço das famílias. Aquele idoso que possui um familiar-cuidador, ou seja, filha ou filho que desempenha as funções de um cuidador e que resida junto do núcleo familiar do cuidador representa um desafio a mais no contexto de quarentena. Estes idosos podem apresentar menor tolerância ao excesso de barulho e movimento na casa, visto que todos os membros da família estão restritos ao mesmo ambiente. Outros idosos, podem sentir-se punidos ao terem suas liberdades restringidas e não compreenderem os motivos de tais restrições. Nestes casos, é importante desenvolver estratégias de esclarecimento que podem envolver pistas visuais inseridas no ambiente que ajude o idoso a recordar o motivo do confinamento, calendário de atividades/rotinas, dentre outros dispositivos. Novamente, ter uma rotina envolvendo atividades físicas é muito importante para diminuir o estresse e a ansiedade, tanto do cuidador quanto do idoso. Já para aqueles idosos em estágio inicial de algum transtorno mental associado ao envelhecimento e que ainda moram sozinhos mas são supervisionados pelo familiar-cuidador, deverá ocorrer maior vigilância no que se refere a alterações nas atividades de vida diária do idoso, pois muitos apresentam déficits de memória momentâneos, levando ao incremento no risco de acidentes domésticos, como esquecer a panela no fogo e queimar ou não atentar para as medidas de segurança e higienização em relação ao corona vírus. Logo, entregar as compras já higienizadas e fechadas em um saco e os remédios ordenados em porta medicamentos poderiam ser opções para minimizar o contágio, assim como colocar avisos visuais na cozinha para que não saia do cômodo sem antes desligar o fogão. O uso de pistas visuais pode também ser utilizada em outros cômodos da casa, onde haja algum risco de acidente (ex. banheiro). Nestes casos, conversas sobre o quotidiano em encontros virtuais mais frequentes com o familiar-cuidador são indicados tendo como objetivo verificar a qualidade das atividades realizadas.

Outra opção nos casos de idosos com problemas mentais que moram sozinhos seria a inclusão de um acompanhante formal que passaria a residir com o idoso. Como idosos tendem a ter a imunidade mais baixa que a média da população, é essencial que quem trabalha com eles tome precauções adicionais. Não há orientações específicas para idosos e cuidadores, mas é sabido que idosos com Mal de Alzheimer, Mal de Parkinson e outras síndromes demenciais estão sujeitos a infecções mais frequentes simplesmente pela dificuldade ou incapacidade em seguir orientações simples. Logo, o cuidador do idoso deve redobrar a atenção com sua própria higiene pessoal, e também com a da pessoa assistida.
De modo geral, ao encontrar outras pessoas, mesmo familiares, o idoso deve evitar beijos, abraços e aperto de mãos mesmo em pessoas aparentemente saudáveis, pois o vírus pode permanecer incubado e sem sintomas por vários dias. Esta medida poderá ser a que cause maior estranheza no idoso: não poder aproximar-se da família na presença da família. Assim, incrementar sorrisos, conversas afáveis sinais de carinho e aceitação poderão minimizar o impacto do afastamento físico.
Abaixo algumas orientações gerais, que não substituem orientações específicas médico-paciente, nem se aplicam necessariamente a todos os indivíduos.

1- Ao chegar da rua para a residência do idoso
Cuidador ou familiar: antes de qualquer coisa, deve-se lavar as mãos; Pessoas que façam uso do sistema público de transporte, que venham de aglomerações ou lugares com trânsito intenso de pessoas: recomenda-se não se aproximar do idoso ou entrar em seu cômodo. Caso seja necessário, tomar banho, trocar de roupa ou vestir um jaleco;

2- Uso de mascaras
Não utilizar/reutilizar a máscara por mais de um dia, trocar sempre que aderir sujeira, secreções ou humidade;
A máscara deve estar apropriadamente ajustada à face para garantir sua eficácia (consulte o manual do fabricante), sob o risco de produzir uma falsa sensação de segurança;
Enquanto estiver em uso, evitar tocar na máscara;
Remover a máscara usando a técnica apropriada (ou seja, não tocar na frente, mas remover soltando as amarras atrás das orelhas ou pescoço);
Após a remoção, ou sempre que tocar inadvertidamente na máscara usada, lavar as mãos;
Descartar imediatamente a máscara após a remoção, não sendo permitido reutilizar máscaras descartáveis;
Caso a máscara fique úmida, substituir por uma nova, limpa e seca;
É importante citar que não existe a necessidade da pessoa passar o dia inteiro usando a máscara em casa. O uso só é recomendável quando se está em contato com outra pessoa.

3- Ambientes / Ao manusear objetos
Aumente a frequência de limpeza dos ambientes, em especial aqueles onde circulam o idoso e o cuidador;
Manter ventilação natural nos ambientes e diminuir o uso de condicionadores de ar (ar condicionado) ao estritamente necessário;
Objetos manuseados por idosos, caso estejam em ambientes compartilhados por outras pessoas, também devem ser limpos com maior frequência;
O álcool em gel pode ser um aliado não apenas na manutenção da higiene pessoal, mas por reforçar o hábito da limpeza constante das mãos. Se puder, espalhe frascos deste pelos ambientes;
Recomenda-se restringir o acesso de qualquer pessoa que tenham retornado de área de transmissão local de Covid-19 por 14 dias a contar da data de retorno da viagem;

4- Na cozinha / na preparação de alimentos
Evitar falar sobre os alimentos durante o preparo, em especial os servidos crus ou in natura;
Cozinhar bem carnes e ovos;
Copos e talheres não devem ser compartilhados. No caso de infecção ou suspeita, a lavagem de talheres precisa ser feita com uma esponja que também não seja usada em outros copos/talheres da casa. A pessoa que for lavar esses itens também precisa usar luvas;
Evitar o uso de garrafas de água compartilhadas;

5- Na lavagem das roupas
Para a roupa comum, não há instruções específicas. Para a roupa do indivíduo diagnosticado com Coronavírus, sua manipulação (lavar, passar) deve ser feita em separado das peças do restante da família. O mesmo vale para peças de cama, toalhas etc;

6- Ter um histórico de saúde
Um histórico de saúde confiável ajuda a entender e controlar eventuais casos. Para evoluir o quadro de idosos e outras pessoas assistidas por cuidadores, uma das melhores ferramentas é a confecção de um diário. É importante também atualizar a situação vacinal para influenza (gripe) e doença pneumocócica conforme indicação de cada idoso.

 

Psic. Dra. Alessandra Ghinato Mainieri 
Nucleo de Neuropsicologia - Clinica Ágape